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"Zagallo eterno" tem 13 letras

Morador antigo da Barra e obcecado pelo número 13, o 'Velho Lobo', que nos deixou na madrugada deste sábado (6), só comprou o seu apartamento no Atlântico Sul quando o corretor arrumou um imóvel no décimo terceiro andar

Zagallo foi capa da nossa edição impressa de 13 anos. Confira abaixo a matéria publicada na Folha, em julho de 2011. Na foto acima, ele, no playground do Atlântico Sul, no dia da entrevista

 

'O Lobo do Bosque’ tem 13 letras

Zagallo fala da obsessão pelo número que o consagrou e respira futebol até para falar do trânsito da região: “Está congestionado”


Luiz Neto - julho de 2011


É tarde de 1979 e um velho Lobo, ainda aos 48 anos, decide se mudar definitivamente para a Barra. A casa no condomínio Caça e Pesca, que usava apenas para passar finais de semana quando morava na Tijuca, seria substituída por um apartamento no condomínio Atlântico Sul. O corretor, que esperava pelo cliente na porta do prédio, o convida para subir até o 17º andar, quando é surpreendido por Zagallo. “De jeito algum, eu só compro o apartamento se for no 13º”, diz.

“Mas o que eu tenho disponível é no 17º”, insiste o vendedor. “Então, eu não quero. Eu só compro se for no 13º andar”.


Hoje, a um mês de completar 80 anos, Mario Jorge Lobo Zagallo recebe a equipe da Folha do Bosque no seu condomínio, onde vive há 32 anos. No Atlântico Sul, 13º andar, claro (apartamento 1.301). O jornal comemora 13 anos de vida, ‘Folha do Bosque’ tem 13 letras e Zagallo chega animado para o bate-papo. Apesar de estar pronto para sair dentro de uma hora no carro de sua mulher, cuja placa tem final 1313. Fosse no seu carro, ou no automóvel seu filho, o final das placas também seriam 1313. “Mexi meus pauzinhos lá no Detran e consegui colocar esses números”, conta ele. 


Antes de explicar por que tamanha obsessão pelo 13, cabe parênteses. O Zagallo é, na verdade, o maior gente fina. Bem-humorado, nada tem a ver com a imagem de ranzinza que muitos pintam dele por aí. “Ué, são 5 minutos para as 10h. Eu não combinei 10h com vocês? Estou esperando”, confirmou  a entrevista pelo telefone, na manhã gelada de segunda-feira, 4 de julho. Imaginamos que ele fosse ficar chateado com o nosso pequeno atraso, mas que nada, é a simpatia em pessoa. Alguns quilos mais magro, apenas. Após a cirurgia em que, devido a um tumor no duodeno, retirou parte desse órgão, do pâncreas e do estômago, em 2005. “O tumor parecia um feto, todos achavam que era câncer. Mas, graças a Deus, era benigno e estou com saúde”, diz.


O papo acontece logo após o empate do Brasil com a Venezuela na estreia da Copa América. O confortável sofá no play do Atlântico Sul vira o banco da seleção. “O Brasil entrou no 4-3-1-2, mas o Ganso não fez a função do 1”, explicava.


E tome de 4-3-3 para cá, 4-2-4 para lá, 4-5-1. “Foi uma frustração, mas temos que dar crédito, porque a fase é de transição. Hoje, não temos um Romário, um Fenômeno, um Bebeto. Mas quem está lá sabe da obrigação de ganhar sempre”.


Zagallo respira futebol. Até para falar do maior problema do bairro atualmente: “O trânsito não está dando espaço. Está congestionado. Parece até aquele futebol de antigamente, no qual todo mundo ia atrás da bola ao mesmo tempo, ninguém se entendia”.


Perguntamos sobre Pelé: “Era um garoto-prodígio, fora de série. A tranquilidade que os outros jogadores tinham no grande círculo, ele tinha dentro da área. Só que eu fui tetra e ele ficou no tri”, brinca.


Ele cita a Copa de 58 como sua maior emoção como jogador. Como técnico, diz que a Copa de 70 e o tri do Flamengo sobre o Vasco, em 2001, foram os momentos mais marcantes.


Eu digo que estava no jogo e revelo que sou vascaíno. Foi quando o velho Lobo soltou uma gargalhada que eu tive que engolir. Até as crianças, segundo ele, o param na rua para repetir o tal: “Você vai ter que me engolir”. O desabafo aconteceu após a vitória por 3 x 1 contra  a Bolívia, na final da Copa América de 97. Em La Paz, na altitude de 3.600 metros, parecia que o Lobo enfartaria. “Respira, respira, Zagallo”, chegou a falar o repórter Tino Júnior, na época. “O Galvão levou um susto, mas foi um desabafo para dois jornalistas que começaram a fazer onda para eu sair da seleção”, justifica. 


Além de um multicampeão, Zagallo é também, por mais que não pareça, um baita brincalhão. A coreografia imitando um aviãozinho, ao devolver provocação do treinador da Seleção da África do Sul, num amistoso em que o Brasil ganhou de virada por 3 x 2, em Joanesburgo, 1996, assim como outras passagens, ainda estão frescas na memória dos brasileiros.

 

Mas e o 13, como a mania começou? Antes de falar, ele comenta que a mística, muitas vezes, nem parte dele. Chegou a São Paulo, foi pesar a mala e escutou do funcionário: “Poxa, Zagallo até aqui?”.  Cravados 13kg. Chamado para fazer um sorteio da Senna, no BarraShopping, ele foi testar a roleta e... “Olha, vocês vão perder a credibilidade. Eu estou sabendo que não tem mutreta, mas quem vai acreditar nisso comigo tirando esse número”, disse o Lobo, segurando a bolinha 13 sorteada em meio a 60 números.

“Eu me casei no dia 13 de janeiro de 1955. E a Alcina é devota de Santo Antônio, cujo dia se comemora em 13 de junho. Foi assim que teve início a devoção pelo 13”, revela.


Falando nela, olha ela aí! Alcina de Castro Zagallo chega no play e pergunta se o velho Lobo vai demorar. Eu digo: “Que nada, está acabando”. Alcina Zagallo tem 13 letras, é melhor não contrariá-la.


Tudo que é bom na Barra tem 13  letras

Não é que o velho Lobo está certo? A lista abaixo foi elaborada apenas com coisas bacanas que existem, ou deveriam acontecer na região. Todas possuem 13 letras.

1- 'Zagallo é o cara'

2- 'Barra da Tijuca'

3- 'Linha 4 do Metrô'

4- 'Cerveja na orla'

5- 'Ruas sem buraco'

6- 'Choque de ordem'

7- 'Mais segurança'

8- 'Folha do Bosque'

9- 'Marlon, o Caneta'

10- 'Terceira idade'

11- 'O vôlei na praia'

12- 'BarraShopping'

13- 'Açaí com banana'


A Capa da Folha com Zagallo


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