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Quando a motoserra fala mais alto

Com 41 árvores sendo cortadas no Bosque, moradores se dividem entre a necessidade de acessibilidade e a desconfiança sobre compensações

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Munido de autorização da Fundação Parques e Jardins para remover 41 amendoeiras, o empreendimento GAEA Home Resort, da Tegra Incorporadora, avança na Rua Afonso Arinos de Melo Franco, na descida da Ponte Lúcio Costa. A construtora garante que não há crime ambiental, apenas a necessidade de corrigir calçadas que viraram armadilhas: raízes que saltam, pisos quebrados, acessibilidade no chão.


Muitos moradores confirmam que caminhar ali é missão quase atlética. Como contrapartida, a Tegra promete replantar 21 mudas de Aldrago e 21 de Tamboril no local, além de outras 342 árvores em área pública. Só que, ´para outra grande parte dos moradores da região, essa conta não fecha. Repetem, indignados, que quando essas mudas estiverem de fato crescidas, a maioria já não estará mais aqui para ver sombra alguma, e nunca se sabe como essas medidas compensatórias acontecem. Quase nunca informam onde essas novas árvores serão plantadas, o que deixa tudo com cara de promessa distante.


Um abaixo-assinado, que cresce rápido, pede a suspensão imediata do corte das árvores. “Cada árvore é vida, abrigo e filtro do ar que respiramos”, diz a moradora de um prédio próximo ao local, Regina Soares. “Intervenções assim costumam começar com discursos técnicos e terminar com silêncios prolongados sobre compensações”, completa ela, temendo que, no fim, as mudas virem números em relatórios, e não sombras reais no cotidiano.


“Bastava fazer um recuo na calçada nos dois lados. Tomara que morram todos de calor”, reclamou a personal trainer conhecida na região, Mariana Vivacqua.


Enquanto isso, o corte avança: mais de 20 árvores já tombaram. Moradores contrários à remoção afirmam que perder as amendoeiras é como arrancar um pedaço vivo da rua. Reclamam do fim da sombra, do lar das aves, do frescor que resta numa cidade cada vez mais quente. E, em plena COP 30, veem ironia trágica nesse descompasso entre discurso global e prática local.

 
 
 
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