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Quinze anos vistos do céu (reportagem de junho de 2013)

Repórter aéreo que testemunhou de helicóptero o crescimento da região, Genilson Araújo, seis anos atrás, falou com a nossa equipe sobre as loucuras da Barra apreciada das nuvens

Genilson, em 2013. Ele testemunhou dos céus o crescimento da Barra

Luiz Neto - junho de 2013


Lá do alto, Genilson anuncia: “Trânsito congestionado na entrada e na saída da Barra. Na chegada pela Linha Amarela está tudo engarrafado, assim como em toda a extensão da Avenida Ayrton Senna até a altura do Freeway, na Avenida das Américas. A Lagoa Barra também está completamente parada nos dois sentidos e um caminhão tombou no Alto da Boa Vista”.


E, agora, qual a saída?


Para o repórter aéreo mais conhecido do rádio carioca, fica cada dia mais difícil passar uma alternativa para o morador escapar do trânsito.


Genilson Araújo vai completar 30 anos de profissão e viu o caos se formar lá de cima. Ele testemunhou o aumento da poluição nas lagoas e viu a área verde do bairro ser devastada, gradualmente, por construções.


Em setembro de 2004, quando clicou a área de distribuição da Folha do Bosque, ele já se dizia impressionado com o rápido surgimento de novos empreendimentos na região.


“A cada voo me deparo com um canteiro de obras ou com um condomínio sendo do construído”, contou na época.


Nove anos depois o discurso não muda: “A cobiça imobiliária é gigantesca. Quando querem, no peito e na raça, levantam um prédio. Nos últimos anos o avanço foi absurdamente veloz. Parece que não vai ter um limite”, diz o repórter.


Genilson, porém, é um cara esperto. Pula da cama às 5h e logo está em cima de sua super Yamaha XT 600. “Além de escapar do trânsito, ela é boa para segurar a onda dos buracos na cidade”, conta ele, que decola às 7h e 17h do aeroporto de Jacarepaguá, voando cerca de cinco horas por dia. “São mais de 20 mil horas de voo”, diz na abertura de seu livro “Memórias das nuvens – O Rio visto de cima”, lançado em 2010, com 95 das mais de cinco mil imagens que já clicou do Rio de Janeiro.

O repórter numa reportagem publicada na Folha em 2004. Ele já reclamava do trânsito há 9 anos

Confira a seguir um bate-papo com o repórter...


kit para evitar o estresse no trânsito


Você disse que já perdeu óculos, celular, dinheiro, jornais e outros objetos que saíram voando. Chegou a perder algo de muito valor, que o fizesse pensar em pousar para tentar achar?

“Faz muito tempo, meu Nextel caiu durante um voo. Acredita que quem achou montou, clicou e o diabo do rádio funcionou? Fui avisado de que o aparelho havia sido encontrado num estacionamento. Fui lá e o recuperei. É bom esclarecer que paguei o conserto do teto do carro que aparou a engenhoca. Já perdi outras coisas: dinheiro, jornal, óculos escuros e tampa de máquina fotográfica. Hoje em dia, fico mais ligado e ando com tudo em bolso fechado”.


E verdade que os seus amigos criaram um kit engarrafamento para escapar do trânsito?

“Sim, é verdade. Consiste numa garrafa d’água e biscoito para emergências. É sempre bom estar preparado, pois nunca se sabe o momento do próximo congestionamento”.


Já viu alguma briga no engarrafamento aqui no bairro?

“Briga, briga não. Mas já testemunhei muito xingamento e falta de respeito. Os congestionamentos, o deslocamento lento e o excesso de carros, barulho, poeira etc. deixam a galera com os nervos à flor da pele. Por qualquer coisa que acontece, as pessoas buzinam, forçam passagem etc. Os motoristas profissionais andam exauridos, irritadiços. Quem usa o carro para trabalhar também. A coisa está braba. Hoje em dia o melhor é não entrar muito na pilha, se não a gente pira. Tem dia em que a situação é simplesmente caótica, nem dá para entender o que acontece. Em certas ocasiões, olho lá de cima à procura de uma causa específica e não percebo nada. O congestionamento de uma via emenda em outro, a galera fica pilhada, fecha cruzamento, carro enguiça e ninguém avança. Esse momento de obras tem piorado sensivelmente o trânsito. É um martírio diário sair da Barra para a Zona Sul pela manhã e regressar no fim do dia. Com a obra da ponte estaiada, a Ayrton Senna agora é outro sofrimento na vida da galera Quem tem compromisso com hora marca-da deve levar o fator trânsito em consideração e se programar para imprevistos no percurso saindo bem mais cedo de casa”.


Percebeu que o trânsito melhorou ou piorou com a criação do BRT?

“Acho que piorou. Melhorou um pouco a vida de quem anda de ônibus quanto ao tempo de deslocamento. Apesar de os BRTs estarem lotados. Para a galera que anda de carro, a situação piorou. Houve redução de uma faixa com consequente estreitamento das vias. Quem anda de carro não deixou o carro na garagem para andar de BRT. A situação deve melhorar um pouco com o Metrô. Mas, para ter certeza, é preciso esperar a conclusão das obras”.


Deu para notar nesse tempo o avanço do desmatamento da região?

“Falar em desmatamento é citar, principalmente, as encostas do Maciço da Tijuca. Há sim um avanço, com aumento da favelização nas proximidades do Alto da Boa Vista, no Itanhangá, em Rio das Pedras, Tijuquinha e Muzema. Muito por conta disso, as lagoas estão poluídas e ainda há muita sujeira. Quando a maré está baixa, a Lagoa da Tijuca joga uma água imunda na mar. A água é tão poluída que a diferença de tonalidade é claramente perceptível".


Você deve ter mais horas de voo do que muito piloto. Já tirou o seu brevê?

“Atualmente tenho mais de 20 mil horas de voo. Fiz o curso teórico, comecei o prático, mas não concluí. Claro que depois de todo esse tempo acabei me familiarizando com o funcionamento da aeronave. Pretendo concluir o curso de PP (piloto privado)”.


E os flagrantes em motéis, Genilson? Em 2004, você nos disse que rolava. Abre o jogo, vai...

“A gente vê de tudo quando sobrevoa a Barra - o surfista pegando um ondão, a gostosona num biquininho sensacional na beira da praia, cardumes, arraias, baleias vivas ou mortas, golfinhos, galera malhando, o agito dos shoppings. Enfim, além do trânsito, vejo a rotina de um bairro que é objeto de desejo de muita gente. É claro que já vi muita agitação em motel, só que é bom deixar a galera sossegada se amando. Faz bem para a cuca”.

Um flagra do crescimento desordenado. Há 9 anos já fava para ver o gigantismo de Rio das Pedras (em primeiro plano)



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