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“Me ligam falando que o Comando Vermelho vai me fuzilar”

Ameaçada de morte, a vereadora Talita Galhardo luta contra o crime e diz que a violência na Barra nunca esteve tão grande

Ela já participou da demolição de mais de 200 construções ligadas ao tráfico e a milícia, quando foi subprefeita de Jacarepaguá, de 2021 a 2023. O resultado é uma enxurrada de ameaças de morte que recebe. “Me ligam falando que o Comando Vermelho vai me fuzilar”, diz a vereadora, Talita Galhardo (foto acima). “Mas não tenho medo. Sou maluca mesmo”, dispara ela.


Moradora da Barra da Tijuca há 35 anos, Talita fala que nunca viu tanta violência no bairro. Pincipalmente, de dois anos pra cá. Segundo ela, a guerra do poder paralelo que acontece em bairros como Jacarepaguá, Gardênia, Praça Seca e em comunidades como Rio das Pedras, Muzema e Tijuquinha, respinga na Barra.


“Construção irregular, por exemplo, é o que dá mais dinheiro a esses criminosos. É por isso que eles estão expandindo. Quando o poder público não se impõe, o poder paralelo domina. Pretendo cobrar muito para as demolições continuarem. Não podemos permitir que esses sujeitos continuem enchendo o bolso de dinheiro, enquanto o cidadão de bem está apavorado, não sai de casa, tem medo de trabalhar e até de ficar dentro de sua própria casa. Quem tem medo não deve se candidatar. Se não quiser correr risco deve procurar outra profissão”, comenta Talita, que mora próximo a Associação do Bosque Marapendi (ABM) e está atenta aos constantes assaltos que tomaram conta do lugar.

“Não tem fake news. A violência é que nunca esvete tão grande”


Segundo Talita, uma das rotas de fuga dos bandidos que atuam nas proximidades da ABM é a rua localizada atrás do Barramares. “Pedimos para fechar o lugar”, diz a vereadora, lembrando que os bandidos fogem pelo local e vão para a Ponte Lúcio Costa, que fica na Avenida Afonso Arinos de Melo Franco – rua da sede da Associação do Bosque Marapendi.

A avenida, que dá acesso à orla e possui duas cabines da PM (uma delas construída recentemente), virou uma espécie de parque de diversão dos assaltantes, na saída da praia.


Após vários arrastões ocorridos no lugar, uma reunião para debater o problema, aconteceu no dia 27 de janeiro, na sede da Associação do Bosque Marapendi. Na ocasião, o comandante geral da PMERJ, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que são as pessoas e a imprensa que espalham o pânico pelo lugar. “Não adianta ir para a rede social e criar pânico, porque isso só interessa para quem vende notícia e só desvaloriza os imóveis da região”, disse o comandante.


“Não concordo com isso. Não tem fake news e nem sensacionalismo. A violência é que nunca esteve tão grande por aqui”, afirma Talita.


Segundo o editor da Folha do Bosque, Luiz Neto, há 26 anos o discurso é o mesmo. “Desde a nossa primeira edição, em 1998, que todos os comandantes da PM, que ocupam o cargo naquele momento e participam de alguma reunião sobre segurança na região, repetem a mesma fala: que a imprensa só quer vender notícia, que estamos espalhando o terror e desvalori-zando os imóveis da região”, comenta Neto. “Agora, com o surgimento das redes sociais, o discurso ganhou, digamos, um plus. Eles falam para não ir para as redes sociais criar pânico. Somos fãs do trabalho da polícia. Se não fossem eles ninguém nem sairia mais na rua. Mas esse discurso é rasteiro”, completa.


Durante a reunião, a fundadora da Folha do Bosque, Marta Corrêa, pediu a palavra para contrapor o comandante da PM. “O que nós fazemos é dar voz à comunidade. Todas as notícias que colocamos nos nossos veículos impresso e digital são devidamente apuradas. Se escondêssemos os fatos, estaríamos criando uma falsa ideia de que aqui existe segurança”, disse Marta, sob aplausos calorosos da plateia.


Também durante o encontro, o comandante Menezes prometeu reforçar o policiamento na região, principalmente nos horários de saída da praia.


“A ABM também precisa se comunicar com a comunidade. Até hoje a associação não emitiu uma nota sobre o assalto ocorrido dentro do Bosque cuidado por ela. Assim também fica difícil”, finaliza Neto.


Jogo rápido com Talita Galhardo

Sobre o velho problema de que a polícia prende e a Justiça solta fica claro que é necessário mudar a legislação. Mas o que é preciso ser feito para que isso aconteça?

“A sociedade precisa votar nos políticos que botam a cara contra o crime. Só eles podem pressionar para haver uma reforma no legislativo. Nossas leis são brandas, mas a maioria dos políticos tem a maior dificuldade para meter a cara e agir. Claro que não adianta ter uma polícia prendendo 50 vezes o mesmo bandido. Mas o meio político é nojento. Reparem bem em cada político. Se o sujeito não fala na internet ou em qualquer lugar que o poder paralelo está se sobrepondo ao poder público, tem alguma coisa de errado com ele”.


É favorável a colocação de segurança armada na ABM e em outros lugares da Barra?

“Sim, sou a favor da segurança armada. De contratar empresas que fazem esse tipo de trabalho. Qualquer esforço para apoiar a falta de efetivo da polícia é válido. Quem tiver condições deve buscar esse tipo de serviço. Só perde quem não tem condições de fazer”.


Falando em falta de efetivo, como avalia esse problema?

“Estamos há mais de dez anos sem concurso para a PM. Se tivesse concurso de dois em dois anos, entrando ali 2 mil homens, melhorava bastante. O governo precisa se unir, prefeito, governador e presidente. É preciso que se crie um programa para colocar mais policiais nas ruas. Se precisar mandar o exército tem que mandar. Mas o governo é devagar e não quer se expor.”


Você também foi ameaçada por anunciar um projeto contra shows que fazem apologia ao crime?

“Sim, mas não vão me frear. Órgãos públicos patrocinando show de quem exalta o crime organizado? Se depender de mim isso não vai acontecer nunca. Essa inversão de valores precisa acabar!”.


A capa do impresso de fevereiro da Folha com a vereadora


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