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Carnaval dá dor de barriga

Tem pessoas que detestam os festejos de momo. É o caso do jornalista Mario Marques. Confere a coluna dele publicada na Folha em fevereiro de 2000


Quem não gosta de samba bom sujeito não é. Ok, sou desses; pilantra, mau-caráter, safado. Mas juro: jamais porei os pés em bailes calorentos, desprezo desfiles na passarela com gente cantando para o alto como pateta ou mesmo aqueles pagodinhos nos quiosques. Fujo de carnaval, especialmente o deste ano, o carnaval da Tiazinha, da Feiticeira e, quem sabe, do casal topless. Vou para o mato. Onde não tem esquindumlelê. Espero.


Lembro-me de pronto do carnaval 99. O primeiro solteiro em anos, com o editor desse periódico, Luiz Pit Neto. Convidados para subir no trio da cantora Margareth Menezes, lá fomos nós, corajosos que somos, ver do que dava. Olhava lá de cima e via todo mundo pulando e sambando, suor na testa, debaixo do braço e cabelos molhados. Que graça tinha aquilo (xinguem-me os fissurados por blocos de mortalhas como nomes panacas como Asa de Águia)? Nenhuma. Foi a primeira vez e, claro, última vez.


Ainda mais quando a história remete a um detalhe desastroso como o que eu passei. Lá de cima, dividindo espaço com os humoristas Luiz Fernando Guimarães e Luís Salém, com a promoter Liége Monteiro e com duas dúzias de bicões baianos, deu-me um revés: dor de barriga. Desci com Pit para procurar banheiro pela orla (Barra Ondina) e consegui, pedindo misericórdia ao gerente, a chave do banheiro de seu supermercado.


Enquanto o caminhão seguia seu trajeto de festa, eu, embaixo, seguia minha rota de agonia. Passei por cinco banheiros de hotéis em quase cinco horas de andanças. Não precisa nem dizer que os dias que se seguiram passei no hotel rindo do Rodolfo do ET, que lá estava, do LF Guimarães, jogando pingue-pongue com Pit, ou arrumando um lugarzinho no camarote vip de Daniela Mercury (não sem saber se antes havia banheiro acessível ao lugar). Maldito acarajé!


Minhas lembranças de carnaval realmente não são boas. Talvez venha daí os meus traumas. Meus amigos contavam grandes vantagens. Um deles, garoto boa-pinta, bom papo (até demais), disse-me que havia beijado 42 mulheres nesse mesmo carnaval 99 em Salvador. Dessas, “três foram sacrificadas”, segundo ele. Não me atrevo a revelar a minha estatística, por ser ínfima e pelo fato de a minha mulher estar passando a todo momento da sala para a cozinha de olho nessa telinha.


A outra vez que me recordo de ficar com os dois dedos indicadores pra cima como um imbecíl para lá e para cá, foi no mandato 86/87. A convite de outro amigo, Reinaldo, inveterado beberrão, caí em Sepetiba (!!?). Alcoolizado todas as noites, mesmo aos 16 e 17 anos, época das descobertas, achei deprimente, a despeito de ter trilhado caminho inspirado como o do meu amigo boa-pinta (nada de estatística pela mesma razão já exposta). Nessa época, como bom voyeur adolescente, ficava em casa gravando cenas de bailes de mulheres nuas até altas horas da madrugada. Aquilo que era carnaval... nada de suor ou barulho na cabeça. Que beleza... bem, pelo menos até meu pai invadir o quarto sem pedir licença. Ops!


Mario Marques - Fevereiro de 2020.


Abaixo, dois cliques do arquivo pessoal do editor da Folha, Luiz Neto. Ambos feitos em cima do trio, em 1999. No primeiro, o próprio Neto, e no segundo, a atriz Betty Faria. Infelizmente, ainda não foi encontrado registros do jornalista Mario Marques. Parece que a dor de barriga foi mais séria do que mostra o relato acima...


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