A Importância da psicopedagogia na estimulação cognitiva em Idosos.
Rio de Janeiro, 22 de Março de 2023.
Trabalho de metodologia - Artigo Científico
Professora Fernanda Maluf
Curso de Psicopedagogia 11 - Irene Maluf
Flávia Dallalana da Costa
INTRODUÇÃO: Vivenciar um declínio cognitivo que resulte em perda da independência funcional é uma das perspectivas mais temidas do processo de envelhecimento bem-sucedido. A identificação de estratategicas preventivas capazes de preservar a saúde cognitiva é atualmente uma prioridade para a redução de morbidez e incapacidade associados ao envelhecimento. Estima-se que metade dos casos de doença degenerativa em todo o mundo possa ser atribuíidas a fatores de risco potencialmente modificáveis. Entre esses fatores destaca-se diversos aspectos relacionados com estilos de vida ativo que tem sido associados a menor risco de transtornos cognitivos. Alguns desses fatores são potencialmente modificaveis mesmo nas fases tardias da velhice, principalmente as atividades e os hábitos com potencial para desacelerar o declínio cognitivo devem ser conhecidos e estimulados em estratégias de promoção de saúde para a população idosa. A manutenção das habilidades cognitivas constitui um dos fatores associados à saúde e à qualidade de vida no envelhecimento, aliando-se ao bom desempenho físico e social. O funcionamento cognitivo saudável inclui domínios como linguagem, memória, funções executivas, julgamento, atenção, percepção e a capacidade de manter objetivos na vida. A partir disso, podemos pensar que a saúde cognitiva refere-se à capacidade de manter as habilidades cognitivas, funcionais e a rede de contatos sociais ativos. Já sabemos que o processo de envelhecimento normal engloba algum declinio nas funções executivas, memória operacional, memória episódica, velocidade de processamento e na mudança no foco atencional. Por isso todos os idosos necessitam mais tempo para reter informações e dificuldade em reter várias informações simultaneamente, sendo portanto necessário que ele foque em uma tarefa de cada vez. Um outro ponto para levar em consideração, é a hipótese do desuso,o estilo de vida do Idoso pode não favorecer o bom funcionamento da memória. Em função do afastamento do trabalho e das mudanças nos papéis sociais, os idosos podem se afastar da estimulação necessária, o que levaria ao desuso das habilidades cognitivas. Todos esses fatores colaboram para a mudança a importância das intervenções cognitivas nessa população, favorecem a estabilidade do desempenho cognitivo interação social. Contribuindo para independência, autonomia e qualidade de vida. Raquel Dias e Shayenne Torres, 2017 Oliveira, Silva e Confort et al.,2016, observa que o envelhecimento humano ocorre entre 65 e 70 anos de idade, essa informação é constatada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), trazendo alterações significativas no cérebro que ocasionam mudanças no comportamento e na forma de agir e pensar. No decorrer do processo de envelhecimento, os sujeitos deparam-se com inúmeros desafios, motivados por diversas alterações em seu organismo, as quais podem resultar em comprometimentos de funções fisiológicos, imunológicos e sensoriais, dentre eles, estão relacionadas à saúde diretamente ligado à possível vulnerabilidade do sujeito ao desenvolvimento de doenças e ao comprometimento de sua capacidade funcional para a realização de atividades cotidianas (Vancouver et al, 2019). O Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária, número que representa 13% da população do país. E esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada em 2018 pelo IBGE. A previsão é que em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%. Segundo a demógrafa do IBGE, Izabel Marri, a partir de 2047 a população deverá parar de crescer, contribuindo para o processo de envelhecimento populacional – quando os grupos mais velhos ficam em uma proporção maior comparados aos grupos mais jovens da população. A relação entre a porcentagem de idosos e de jovens é chamada de “índice de envelhecimento”, que deve aumentar de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060. O crescimento desse segmento da população sinaliza que nem o Estado e nem a população de um modo geral estão preparados para absorver essa nova realidade, onde já é visível perceber que possivelmente haverá uma escassez de recursos humanos qualificados para lidar e atender as pessoas idosas, exigindo um olhar amplo, diferenciado e demandando cuidados e atenção especial para com esse público. (Ferreira Santos e Silva et,al., 2021) A senescência é um processo natural que implica mudanças graduais relacionadas á idade e ao estilo de vida ativo e saudável. Ao contrário, a senilidade é caracterizada por afecções que acometem o indivíduo idoso. (Ciosak et, al, 2011). O processo de envelhecimento é individual, multidimensional e multideterminado de fatores genéticos, biológicos, socioculturais e de estilo de vida do sujeito (atividade sexual, atividade recreativas, estado de ânimo), além de variáveis associadas a questões socioeconômicas e psicossocial (Silva Junior, et al, 2019). Dessa forma o envelhecimento pode ser vivenciado pela pessoa como uma conquista e uma dádiva, diante de uma perspectiva mais saudável e ativa, gerando prazer e satisfação em muitos idosos ao vivenciarem essa fase de sua existência (Medeiros et al, 2016). É desejável que o envelhecimento ocorra com qualidade e que os idosos continuem participando da sociedade com autonomia, minimizando-se, assim, as possibilidades de exclusão social (Medeiros et al, 2016). De acordo com a organização Pan-americana de saúde (2005), a autonomia é a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente, conforme suas próprias regras e preferências. A independência é, em geral, entendida como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária, isto é, a capacidade de viver independentemente na comunidade, com alguma ou nenhuma ajuda de outros. Esses princípios tornaram-se essenciais para que o indivíduo desfrute de um envelhecimento ativo e saudável (WHO et al.,2005). A partir disso, torna-se importante o conceito de envelhecimento ativo que, de acordo com abordagem da organização dos idosos, mas também com seu envolvimento em atividades sociais formais e informais, culturais, de lazer ou que exijam esforço físico e mental (Costa et al.,2015). A participação de um grupo pode resgatar a importância de compartilhar suas experiências e dificuldades, agregando a sensação de ser aceito. Atividades desenvolvidas nos chamados " grupos para terceira idade" ou "grupos de memória" permitem a socialização e a construção de vinculos. Para o idoso, isso se traduz no sentimento de pertencimento à sociedade melhorando sua qualidade de vida. (Santana et al.,2018). Tais atividades podem ser vivenciais nas oficinas em grupo, com vistas a uma estimulação da memória e das funções executivas cognitivas. (Santana et al., 2018). O objetivo, em sua maioria, é promover a melhora funcional na vida diária, utilizando-se certas dinâmicas lúdicas e treino cognitivo, com a finalidade de melhorar desempenho em uma tarefa e/ou função cognitiva mediante o ensino de métodos que o idoso possa utilizar em seu cotidiano (Santana et al., 2016). Programas são configurados de diferentes maneiras e aplicados por tempos variáveis, resultando em melhora de processamento, funções executivas, atenção e inteligência após a intervenção (Bento-Torres et al., 2016). Oliveira, Silva e Confort em estudo publicado em 2020, reforça a necessidade de ampliar o trabalho do psicopedagogo na estimulação/reabilitação cognitiva para este público, chancelando a ideia de esforços mentais, reabilitar ou aprender, o que chamamos de neuroplasticidade. TRATAMENTO E PAPEL PSICOPEDAGOGO JUNTO AO IDOSO As funções executivas com o tempo, podem ficar menos ativas, seja por doenças degenerativas ou apenas pelo declínio cognitivo natural da idade, sendo necessário ensinar ao ser humano técnicas para lidar com as limitações e desenvolver novas estratégias para alcançar uma qualidade de vida satisfatória. Outra informação relevante é que além do declínio das funções executivas, outras perdas são visivelmente percebidas ao envelhecer, a perda auditiva, visão, motora. (Silva et al, 2009) A cognição está relacionada com os processos de conhecimento, entendimento, aprendizado, percepção, lembranças e pensamentos, tornando o indivíduo informado e com conhecimentos para se adaptar ao meio. (Wilson,Oliveira et al., 2009). Wilson (2009, p.138) "afirma ainda, que idosos sem atividades podem perder as suas capacidades intelectuais, pois essas, permitem a recuperação e a proteção do intelecto da deterioração". Manter o funcionamento das funções executivas é importante para o bom funcionamento da autonomia, possibilitando a organização e realização das atividades do dia a dia com independência. (Malloy-Diniz et al., 2019) Em decorrência do aumento da população idosa e da falta de políticas públicas eficientes para o idoso, do consequente estilo de vida, distante do ideal, as demências, transtornos depressivos, enfermidades neuropsiquiátricas são maiores nesta fase. (Santos Silva et al., 2021) Ao contrário do que todos pensam, o declínio cognitivo ocorre de forma heterogênea, associado a diferentes culturas, hábitos de vida ao longo da história de cada um, fatores ambientais, socioeconômico, genéticos. Em um idoso tipicamente saudável, a perda cognitiva não compromete a funcionalidade, mas em caso de doenças ou lesões cerebrais, diminuem a capacidade cerebral e qualidade de vida. (Fabiana Santos; Silva et al., 2021) Em 1970, os estudos sobre treino cognitivo foram iniciados, alcançando popularidade apenas no final da década de 1980. Esses estudos verificaram a possibilidade de modificar nas pessoas as habilidades cognitivas evidenciando um grau de plasticidade na cognição do idoso, demonstrado por meio da melhora significativa em habilidades como velocidade de processamento, raciocínio e orientação espacial (Wilson et al., 2009). Nas pesquisas feitas, constatou-se que a maioria dos estudos relacionados a estimulação cognitiva foi produzido nas áreas de neuropsicologia, geriatria, enfermagem, psicologia, psiquiatria, fonaudiologia, sendo evidente a carência de produção cientifica nessa área atribuidas a psicopedagogia/neuropsicopedagogia. Quando o idoso é submetido à estimulação ele tem a capacidade de se manter emocionalmente ativo, produtivo e útil, desde que lhe seja dada a oportunidade a neuroplasticidade (Silva et al, 2009). A ideia de estimular a cognição favorece a autonomia, independência do idoso, beneficiam e diminuindo a perda das funções. (Oliveira et al, 2016) De acordo com Oliveira, Silva. (2016), a psicopedagogia atua entre psicologia, pedagogia, sofre influências psicolinguísticas de outras áreas como a geriatria, neurologia etc. Pode-se dizer que é a ciência mais estabelecida para o desenvolvimento na área cognitiva, podendo atuar com esse público, apoiando e tentando preservar a população idosa com a máxima capacidade funcional, física e mental. Sendo assim, a psicopedagogia e outros devem apoiar ações de saúde para idosos preservando a capacidade funcional, independência física e mental. (Silva et al., 2000) O psicopedagogo possui conhecimentos diversificados e qualificado para trabalhar a na área cognitiva e neuropsicopedagógica de forma preventiva ou não, ele possui como base a pedagogia, a psicologia, neurociências, a linguística, motora, sensorial e socioemocional, apto a elaborar materiais de reabilitação e/ou compensatórios nas funções debilitadas, exercendo uma função primordial no atendimento terapêutico desse público, não apenas com crianças e adolescente como é comumente encontrado em nossa literatura, mas também na cognição na vida do Idoso. (Janczura e Silva, et al., 2009 e Santos Silva et al., 2021). A terapia psicopedagógica, se utilizando de materiais adaptados e construídos dentro das perspectivas do universo social, cultural e financeiro do idoso, pode ajudá-lo a ter vinculo e empatia com o seu processo terapêutico, o que poderia não acontecer, caso fossem utilizados materiais genéricos ou infantilizados, deixando em uma posição desconfortável perante o processo de aprendizagem, neuroplasticidade (Oliveira e Casimiro, et al., 2009). As condições acadêmicas, econômicas, nutricionais e o estilo de vida, são fatores importantes a longevidade de um ser humano. Além disso a sociedade visa que o idoso deve ser poupado, ou seja, tirando suas atividades cotidianas esperando que com isso obtenha mais tempo de vida, mas não necessariamente uma vida de qualidade. Não basta dar mais tempo de vida ao idoso, e sim, qualidade da mesma (Yassuda, 2000, p. 254.) Afastar as pessoas idosas de suas atividades cotidianas, sem substituição, deixando-as ociosas, colabora para um declínio de sua atividade cognitiva, portanto, reduzindo a sua qualidade de vida. (Silva, et al., 2000)